Quando ajeito o cachecol e o sobreponho nos ombros, sinto o vento da manhã gelar-me a intranquilidade, e no nevoeiro que respiro solto o meu ar quente.
Por tudo o que penso, há a minha imagem nela contida, a omnipresença da minha passagem, o toque, o olhar e o sentido de tudo o que me está debaixo dos pés, e acima dos ombros. E em todas as músicas que oiço há o remexer da minha procura, o desmembranar da melodia, o nu de um sol quente que chega da janela.
Por toda a cidade não vejo mais que um vazio, deserto em tudo o que se move. Quando carrego no Play, desligo a minha interface ao mundo; aqui só sou de mim mesmo.
Quando penso nestas ruas, a minha fuga é a estrada.Talvez por isso elas existam, talvez por isso o conceito da distância e do tempo de partida seja esse: Fugir; fugir do imperfeito vazio, o imóvel estático de pedra que cai no nada. E tudo se não é nada menos que isso: o conjunto de pedras, de trevas, que faz o Universo existir.
E às vezes, não vejo mais que isso. Às vezes a minha vontade é corrida a zeros,e mesmo assim tenho uma força que não é minha, a avassalar montanhas, a encher pátios, a encher quintais, florestas, salas, casas, prédios, ruas, cidades, países.
Na aragem de uma terra polida, levanto o pó da minha R e v o l u ç ã o, a Verdade consumada na carne, a liderança chamada, votada e sentida, num olhar de vidro.
Mas por vezes, mas por quantas vezes não tenho preso na minha vontade, o fosso de não querer nada, o fundo sem fim de um cadáver de alegria. Sou sincero e digo que não sei se hei-de mais algum dia que seja acreditar na Humanidade.
Vejo o mundo das imagens, dos hifives, dos telemóveis, das relações, do deixa andar, dos desejos, dos vícios, da turbulência, da mentira e da falsidade, da arrogância e da maledicência, da apatia e da dormência, da inveja e da mesquinhez, dos roubos, da pobreza da fome e do espírito, da corrupção, dos carros e da luxúria, das festas e da noite, do materialismo, do consumismo, CHEGA. CHEGA. Tenho como que um catarro que constantemente cuspo, uma tosse que me vai devorando, esta doença que me acentua na madrugada, entrelaçada em acordes....nas cordas do meu espírito.
Só sinto fossos que me rodeiam no dia-a-dia, cadáveres andantes, que me abraçam, que me me falam, e me vão puxando também. WAKE UP, ACORDEM, o que se passa? Como dá para não querer a Verdade?
Por momentos eu perco-me, por momentos todo o sentido da união das minhas células perde-se. Não sei ate que ponto fará sentido o meu respirar em tudo o que acredito; não sei se esta força não vencerá melhor pela minha cinza. Não quero viver na minha projecção, e de tudo o que dela acreditarem, quero que tudo o que transmito viva na minha projecção. Eu poderei ser mortal, mas tudo o que se um dia acreditar que veio de mim, será imortal. E aí viverei.
Nunca se deve interferir na liberdade de seja o que for, mas acredito na justiça de tudo, em vida ou em morte.
'Acreditar que a vida nasceu de uma explosão, é acreditar que os Lusíadas nasceram de uma explosão numa biblioteca. Tudo faz demasiado sentido para ser obra do acaso.'
É esta a lógica da razão que nos traz a lucidez de um ser superior;
É o que se-nos revela no nome de Deus.
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Quando ajeito o cachecol e o sobreponho nos ombros, sinto o vento da manhã gelar-me o calor do rosto. Atrás de mim mesmo, abro os olhos no silêncio da minha surdez; é aqui que sei todas as respostas.
RazaoDestemida.
2 comentários:
Simplesmente lindo... Parabéns!
Gostei!
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