Sempre tive uma posição ateia em relação ao assunto. Mas o certo é que lá passei. E por isso venho aqui descrever, esta tão minha grande experiência por tais solos.
Foi a primeira vez que fui, nos passados dias 6 e 7 de Setembro à grande festa comunista. O Avante. Sempre pensei: Avante?? Isso não é só bêbedos e carochos e onde há só porrada???
O certo é que sorrateiramente, e sem eu dar conta, lá fui convencido. Também é verdade que foi a primeira vez que tive companhia para tal. Mas lá fui.
Indo eu, indo eu, com a minha velha mala monte campo às costas, de lenço Arafat ao pescoço. Várias vozes e questões me iam voando na cabeça: - A festa do comunistas??? Mas tu vais a isso??? O comunismo é contra a religião! O Che Guevara matou pessoas!! O partido comunista é o partido mais rico, só à pala do avante! Dar dinheiro para aqueles gajos??? Nunca! Aquilo é só álcool e drogas…Não.. aquilo também é cultura…por isso é que lá vou…
Vá rias ideias baloiçavam-me o espírito, mas o certo, é que mais ou menos relutante e arrastado lá fui.
No descer da rampa, o confronto mínimo com aquilo que seria a festa ia aparecendo. Maioritariamente jovens enchiam a rua. A zona das tendas era ao lado, com imensos campistas que lá passaram a noite de sexta feira. E como é que essa malta jovem estava?
Ora bem… Passavam cada vez mais pessoal por mim… Com uns olhinhos assim bastante carregados, e de garrafas de álcool e cerveja na mão… A minha mente modesta pensou logo: estes jovens dormiram mal, pois estão com os olhos esbugalhados.. e certamente aquelas garrafas todas não traziam alcool, traziam sim sumo! Claro, obviamente!!!! E só me apetecia ali gritar para eles: Avante Keimado… ups.. Camarada!!!
Num momento em que quase registei a hora exacta que aconteceu, lá passei a fronteira, que separava no meu ver, o mundo normal, do mundo comunista.
- Whoooo, passei! Estou no avante!! Incrível!! – disse eu.
E cada vez mais me (não) surpreendia… Depois daquela fila enorme para entrar, deparei-me ainda com mais gente. Para quem nunca foi ao avante, eu explico: é uma espécie de feira, pois está estruturada como tal. Tem barracas de cada cidade, com ateliers, exposições, restaurantes, concertos etc. E tudo, claro, obviamente com uma mensagem de propaganda politica.
Mas o que mais me ia enchendo as ideias, era o que os meus olhos viam. Pois o avante tem mais… Aquela festa, aquele recinto, simplesmente é transformado num campo de toda a liberdade possível. Rasta-mans, dreads, punks, hippies, passeiam livremente, enrolam ganzas, fazem misturas de bebidas, fumam e bebem, sem que ninguém os xatei… Ah… E enquanto isso, as famílias passeiam mesmo ao lado com os seus carros de bebes… A isto é o que eu chamo: liberalismo a olhos de bezugos… Foi na altura em que tive uma aparição da verdade: Avante Queimado…!
Esta mistura toda, ainda tem mais coisas que se diga. Praticamente ali no avante, está toda a gente que ao longo do ano não se vê. Parece que ali naqueles três dias saem da toca, ou que andam um ano inteiro a preparar-se para aqueles dias. A festa é comunista, mas toda a realidade de Esquerda ali se vende, propaganda, e mistura. T-Shits, boinas, bonés do Che Guevara, dos símbolos comunistas, e afins. Surpreendeu-me numa passagem que vi, de um homem idoso de bengala, nada mais nada menos, com uma boina do Che. Só faltava falar cubano…
No meio deste mundo todo, o meu interior pensava. E reflectia.
Toda esta propaganda comunista, não me assenta bem. Não quero falar aqui mal nem ofender ninguém, mas não concordo com elas. E porquê? Porque é que uma ideologia tão revolucionaria não me assenta bem??
Isto por muitas razões:
- O discurso comunista assenta numa retórica de discurso, que em filosofia tem um nome mas que não me lembro agora, que cuja definição é superficial. Dizer coisas como: ‘Pelos direitos e pela luta’ – É um discurso superficial. Não é objectivo. Todos sabemos que nada é perfeito, haverá sempre algo a cumprir, pois com superficialidades assim andaríamos sempre insatisfeitos. Existem problemas, existem. Então que os discursos sejam de propostas, e não de argumentação superficial. Pois dessa argumentação existe muita, e resoluções não se vê nenhuma.
- Comunismo é defender: direitos iguais para todos. Lógico, por isso se chama comunismo. Logo, carros bons para todos, comida para todos, dinheiro para todos, bens para todos. Então se eu trabalhar mais que o outro, o outro tem o direito de receber mais que eu? Isso é injustiça…
Houve alguém que me disse um dia, e concordo: a politica comunista não se encaixa nos tempos de hoje. E é verdade.
É simples… O engano vem na retórica do argumento fácil: direitos e igualdades! – Muito bem, excelente… Mas isso há, houve e sempre haverá… Politica é utopia…
- O comunismo diz que a religião é o ser humano oprimido, e que Deus não existe. Então como explicam eles que tudo apareceu? Como explicam eles que tudo vem só de um ser e algo absolutamente Maios que nós? – é muito ousado dizermos aquilo que seja do que não conhecemos. Como explicam eles o Cristianismo, as milhentas aparições e milagres católicos, as experiências budistas e outros géneros?
Não explicam. Certamente que um comunista acredita minimamente em Deus, ou não leva isto à letra, mas o certo é que o fundamentalismo do comunismo é este, escrito pelo Marx e companhia…
E prezo muito desde já, todos aqueles que não apoiam o comunismo, católicos e ortodoxos, Budistas e Árabes, pois também o Cristo antes de se Crucificar disse: ‘Dei-vos com os Samaritanos e Plebeus’ - Pois a isto, chama-se ter a mente aberta, e não rejeitar os princípios da alma!!!
- Certo dia andava eu a pesquisar na net sobre estes temas, e encontrei uma página de um referido doutor a reflectir no assunto. Pois ele aprofunda muita coisa, inclusive que o comunismo é um pensar materialista e contraditório. Concordei. Passo a citar o link:
http://www.revolucao-contrarevolucao.com/verartigo.asp?id=47
- Cá por mim, fico-me pela minha máxima: Não apoio partidos políticos. Apoio causas, e acções, não apoio filosofias de querer chegar e atingir o topo do poder.
Mas o meu dia continuava. E lá fui a um palco ver as Tucanas actuarem. . E digo desde já, muita pena que o espectáculo tenha sido o que foi… Passo a explicar: Muitos problemas de som, descoordenação nos acertos sonoros e muito ruído.. O que não deixou de se ouvir uns assobios do pessoal que assistia... Uma pena, porque elas actuaram bem, tem muito talento, e certamente se não estivessem naquelas condições seria mesmo um grande espectáculo… Até é compreensível os problemas… Elas usam muito a dicção de vários sons… Cada Tucana necessita de pelo menos 3 microfones… Não e fácil acertar um concerto delas…
Pelo fim da tarde seguiu-se mais uns quantos fenómenos de Carvalhesa… Quem lá foi sabem bem como é… A Carvalhesa é um dos hinos Comunistas, e cada vez que no avante ela se ouve, literalmente tudo, mas tudo pára para dançá-la. Gostei particularmente de ver um rapaz a toca-la na flauta. E como é que se dança tal coisa? Fácil. Moche, saltos, rodinhas, comboios etc…Eu ate sugiro que o presidente Jerónimo substituía os seus discursos pela Carvalhesa… Sempre capta mais publico…
A noite aproximava-se, e para quem já lá esteve sabe como é… Filas enormes, e muito tédio… Mas nada que não se passe bem.
E o concerto grande da noite qual era? DaWeasel.
Gostei. Deu para sentir muita nostalgia de velhos tempos, nos temas como o Casa – ‘vem fazer de conta eu acredito em ti (…) ‘
E para gastar as ultimas energias, nada como a Carvalhesa… Se o palco já estava a abarrotar, imaginem o resto das pessoas no recinto a juntarem-se mais ainda no palco… Imaginam? Não… não imaginam… Tudo a saltar durante 6 minutos de tirar o fôlego… Brutal.
O Domingo chegou ainda com mais calor. Não dormi lá. Achei que não me era necessária tal proeza física. E a passagem pelo campo de campismo agradeceu a minha decisão. Se o relvado depois do concerto de Sábado estava nojento, o parque de campismo não estava melhor… E o mesmo cenário obviamente que sim… muito fumo, muito álcool, e muito olho pesado. Mas desta vez algo que se via mais: indivíduos a dormir pelos cantos… Minha rica cama, pensava eu.
E que dizer do lago? Para muitos o sitio mais chunga, mais pesado e mais perigoso do Avante. Não vou comentar mais, acho que não vale a pena.
Neste dia finalmente fiz algo de diferente. Foi o dia de matar a minha fome por cultura e por algum saber mais. Passei pela feira ambulante que havia no cimo do recinto. Basicamente, é a típica feira de monhés, a venderem bugigangas, djambés, didjeriddoos, fios, pulseiras, xemags, etc. Gostei, gosto. No fundo o que somos nós sem cultura? Não é que esta seja a minha cultura de origem, nem que faça dela a minha principal, mas simplesmente há ali várias partes dos cantos do mundo que param ali. E algum verdadeiro sentimento do que é o ser liberal.
Depois de lá sair, foi a vez da passagem pelas tendas da música e dos livros. Gostei particularmente de lá conhecer algumas bandas do alternativo e do tradicional português que não conhecia. Mas o que mais me deixou ideias de controverso, foi nos livros.
Basicamente todos os livros daquela enorme tenda, tinham a ver com a propaganda politica comunista, e pouco mais outros assuntos existia. Sinceramente esperei encontrar mais variedade do que só Che Guevara, Estaline, e livros anti-religião.
E o que mais ainda me deixou de repugne, foi que em todos os livros, batia lá, na fronte ou no verso, o símbolo do partido comunista. Pergunto-me eu, com todo o respeito que me merece tal politica, se isto de facto não será outro culto a uma ditadura? A ultimas que me lembro com tantos símbolos, era de um senhor baixinho, meio careca e de bigode, que eles tanto se orgulham de t er vencido (??). Não foram os regimes de Estaline e dos czares um fascismo que matou milhares e milhares de pessoas? Não são actualmente os regimes do senhor coxo Fidel uma ditadura? Não foi o culto dos simbolismos Nazis abolido por todas as constituições da Europa? Então porque os símbolos comunistas? Porque tanta hipocrisia???????
E a noite mais uma vez lá chegava a noite. O Concerto da noite era dos Xutos & Pontapés. Escusado será dizer a energia que produziu e gastou, nas faixas de Casinha ou Maria.
Mas infelizmente nem tudo foi bom. Depois da Carvalhesa, quando me deparo quase a 5 metros e mim, havia conflito. Porrada. E forte. Uns jovens africanos (uns 5 ou 6) agrediam forte e feio em 2 rapazes brancos. Eles no chão, e os outros… pumba, pumba. Biqueirada na barriga na cabeça, nos dentes. Não vi porque é que aquilo se originou, mas a avaliar pelo aspecto deles, sinceramente não sei de quem seria a culpa...
O que achei nesse momento? - Lamento situações e pessoas assim. É por isso que ainda hoje há racismo.
Camaradas que concordam comigo:
Não desistam! Não se deixem enganar!
Um grande abraço!